vexilologia, heráldica e história

07
Mar 09

Em 1969, o Exército Português aprovou as suas Normas de Heráldica e o seu Regulamento de Simbologia, com base nas normas provisórias e experimentais, introduzidas em 1965. A este facto não deveria ser alheia a necessidade de contribuir para a moral das tropas envolvidas na Guerra do Ultramar e a combater nos teatros de operações de Angola, Guiné e Moçambique. Até então, as unidades do Exército usavam emblemas, estandartes e guiões não heráldicos, que obedeciam a poucas ou nenhumas regras definidas.

 

Estandarte de regimento

As Normas de Heráldica e o Regulamento de Simbologia do Exército de 1969, inspiraram claramente - especialmente em relação às bandeiras -  a heráldica adoptada, posteriormente, pela Armada, Força Aérea, Guarda Nacional Republicana e Estado-Maior-General das Forças Armadas.

 

Estas normas mantiveram-se em vigor até 1987. Nesse ano, o Exército reformulou a sua heráldica, sobretudo no que diz respeito às bandeiras, que sofreram uma alteração considerável em relação aos modelos de 1969. Na nova heráldica previlegiaram-se os estandartes armoriais em detrimento dos estandartes com o campo esquartelado ou gironado. Os novos modelos de estandartes são, heraldicamente  mais puros,  mas não têm a tradição dos de 1969, cujo ordenamento se inspirava nas bandeiras militares portuguesas dos séculos XVIII e XIX. Talvez por essa razão, os restantes ramos das Forças Armadas não alteraram a sua heráldica, mantendo os estandartes de formato tradicional, agora bastante diferentes dos do Exército.

 

Guião de batalhão

No que diz respeito ao Regulamento de Simbologia do Exército de 1969, nele estava incluída a regulamentação específica das bandeiras usadas pelas unidades e autoridades do ramo. Em relação às bandeiras das unidades, até aí, eram utilizadas bandeiras não heráldicas, cuja composição obedecia a regras pouco rígidas, ficando mais ao critério dos comandantes das unidades.

 

Foram estabelecidos quatro tipos de bandeiras heráldicas: estandartes, guiões, flâmulas e galhardetes. São estas bandeiras as apresentadas neste artigo.

 

O Regulamento de Simbologia do Exército também incluía um esboço do novo modelo de Estandarte Nacional (Bandeira Nacional de desfile) para as suas unidades, o qual viria a ser introduzido em 1970.

 

Para encerrar esta introdução, deve-se assinalar que só muito aos poucos o Regulamento de Simbologia foi sendo aplicado à emblemática das unidades empenhadas na Guerra do Ultramar, nomeadamente no que diz respeito às bandeiras. Grande parte das unidades continuou a levar, consigo, guiões não regulamentares ou apenas, parcialmente regulamentares. A dotação das unidades do Exército com bandeiras regulamentares só ficou completa depois do fim da guerra e apenas depois de ter sido possível desenhar brasões de armas heráldicos para as mesmas.

 

Estandartes

Estandarte de um hipotético Regimento de Infantaria nº 27
O estandarte seria a bandeira heráldica de um regimento (ou outra unidade de escalão equivalente ou superior). Excepcionalmente, poderia ser atribuído a unidades independentes de escalão batalhão ou companhia.

 

Os estandartes seriam quadrados (1 m x 1 m), com um ordenamento resultante da combinação de um campo esquartelado ou gironado, com uma bordadura, de cores e metais heráldicos. Sobre o ordenamento do campo e da bordadura poderia sobrepor-se uma cruz firmada ou uma aspa de cor ou metal. A bordadura poderia ser acantonada por quatro quadrados onde seriam inscritas as iniciais da unidade, bordadas a ouro. No centro do estandarte, brocante sobre tudo, seria colocado um listel circular de prata, onde seria colocada a divisa, o mote ou o titulo da unidade. Dentro do círculo formado pelo listel seria colocado o escudo do utente, circundado ou não, por uma coroa de louros. Inscrições alusivas aos feitos militares da unidade poderiam ser bordadas no estandarte, especialmente na sua bordadura, mas nunca na cruz ou aspa, caso estas existissem.

 

Os estandartes seriam debruados por um cordão do metal e cor dominantes no seu ordenamento. O cordão fixaria o estandarte à haste, por meio de laçadas com as pontas terminadas em borlas da mesma cor e metal. A haste e a lança do estandarte seriam de metal dourado. O estandarte seria enviado na haste por uma bainha denticulada e enfiaria, por uma bainha contínua, numa vareta horizontal que o manteria desfraldado. O estandarte seria franjado de ouro ou prata.

 

O Regulamento previu oito padrões geométricos para o ordenamentos dos estandartes: 

PADRÃO      DESCRIÇÃO
Padrão 1  Esquartelado de cor e metal, com bordadura acantonada
Padrão 2 Esquartelado, de cor e metal, com bordadura contra-esquartelada e acantonada
Padrão 3 Gironado de cor e metal, com bordadura acantonada
Padrão 4 Gironado de metal e cor, com bordadura contra-gironada
Padrão 5 Esquartelado de metal e cor, com bordadura contra-esquartelada e acantonada, e uma cruz de S. Jorge brocante
Padrão 6 Gironado de metal e cor, com bordadura contra-gironada e uma cruz de S. Jorge brocante
Padrão 7 Esquartelado de cor e metal, com bordadura contra-esquartelada e uma aspa brocante
Padrão 8 Gironado de metal e cor, com bordadura contra-gironada e uma aspa brocante

  

Padrão 1 Padrão 2 Padrão 3
Padrão 4 Padrão 5 Padrão 6
 
Padrão 7   Padrão 8

 

Os padrões geométricos dos estandartes baseiam-se claramente nas bandeiras militares dos regimentos portugueses do século XVIII e do início do século XIX. As inúmeras combinações de padrões e esmaltes, que podiam ser obtidas, permitiriam que, em teoria, cada unidade do Exército Português pudesse ter um estandarte com o campo ordenado de forma única.

 

Guiões

Guião de um batalhão do RI 27
Guião de mérito de uma companhia de caçadores

O guião era a bandeira heráldica dos batalhões ou unidades de escalão equivalente. Como foi atrás referido, excepcionalmente poderia ser atribuído um estandarte a uma unidade independente de escalão batalhão, que, nesse caso, deveria substituir o guião.

 

Além dos guiões normais, existiam, ainda, os guiões de mérito. Estes seriam as bandeiras atribuídas às unidades de escalão companhia ou pelotão, condecoradas com a Cruz de Guerra de 1ª classe ou condecoração de categoria superior.

 

Os guiões seriam quadrados (0,75 m x 0,75 m) com uma bordadura simples, acantonada, esquartelada ou gironada, que encerrava a quadratura do brasão da unidade. Havia um padrão de ordenamento, sem bordadura.

 

A haste e a lança do guião seriam de metal cinzento escuro. O guião enfiaria na haste, por uma bainha denticulada e numa vareta horizontal, que o manteria desfraldado, por uma bainha contínua. A ponta da vareta seria ligada à base da lança por um cordão da cor e metal dominantes no ordenamento do guião.

 

O guião de mérito teria características semelhantes às do guião normal, mas com um ordenamento fixo. O mesmo seria de vermelho, com um leão rompante de ouro, empunhando uma espada de prata, guarnecida, empunhada e maçanetada de ouro, bordadura de ouro, com uma coroa de louros de verde. Sobre o leão seria colocada a designação da unidade e, sob o mesmo, em duas linhas, o local e a data onde foram praticados os feitos de armas que motivaram a concessão da condecoração à unidade.

 

No que  que diz respeito aos guiões normais, foram definidos sete padrões geométricos para as suas bordaduras: 

PADRÃO DESCRIÇÃO                                                                           
Padrão 1 Simples
Padrão 2 Cantonada
Padrão 3 Sem bordadura, acantonado
Padrão 4 Esquartelada de cor e metal
Padrão 5 Esquartelada em aspa de cor e metal
Padrão 6 Gironada de cor e metal
Padrão 7 Gironada de 16 peças de cor e metal

 

Padrão 1 Padrão 2 Padrão 3
Padrão 4 Padrão 5 Padrão 6
   
  Padrão 7  

Apesar disso não ser previsto no Regulamento, as unidades tinham o costume de inscrever designações, títulos e lemas nas bordaduras e nos cantões dos seus guiões. Isso pode ser observado nos inúmeros guiões das unidades que combateram na Guerra do Ultramar. De observar que, como a maioria das unidades ainda não tinha brasão, na parte do campo dos guiões, que lhe estaria reservada, eram colocados, muitas vezes, emblemas não heráldicos.

 

Flâmulas

 Flâmula de marcar de uma companhia do RI 27
 
Flâmula de arvorar do RI 27

As flâmulas eram as bandeiras heráldicas das companhias e outras subunidades de escalão equivalente.

 

Estas bandeiras seriam triangulares (0,25 m de altura e 0,375 m de comprimento) e o seu campo seria ocupado com a simbologia presente no guião da unidade-mãe, sem a respectiva bordadura.

 

As flâmulas poderiam ser feitas de tecido ou de chapa metálica. A sua haste e lança eram semelhantes às dos guiões, feitas em metal cinzento.

 

Tal como acontecia com os guiões, pode-se observar que era comum as unidades colocarem designações, títulos ou lemas nas suas flâmulas, apesar disso não ser previsto no Regulamento de Simbologia.

 

De observar que estava previsto um modelo de flâmula específico para ser arvorado, que teria as dimensões de 0,25 m de altura e 0,5 m de comprimento. Podemos verificar assim, que, enquanto que em relação aos estandartes e guiões, o Regulamento de Simbologia era omisso no que diz respeito à possibilidade dos mesmos serem usados como bandeiras de arvorar, em relação às flâmulas especificava que isso era possível. Além disso, ainda previa a possibilidade das flâmulas serem pintadas em locais apropriados. Como, em teoria, as flâmulas de todas as subunidades, de uma determinada unidade, seriam iguais, o Regulamento talvez quisesse indicar que as mesmas poderiam ser arvoradas nas instalações, viaturas e outros equipamentos da unidade, identificando-a colectivamente.

 

Galhardetes

Galhardete do ministro do Exército 
 
Galhardete do Chefe do Estado-Maior do Exército 
 
 Galhardete do director da Arma de Engenharia

Os galhardetes seriam as bandeiras destinadas a identificar os oficiais generais com funções de comando, direcção ou chefia, e os membros do Governo.

 

Os galhardetes seriam quadrados, com dois tipos de dimensão, conforme o seu uso. Os para viaturas teriam 0,3 m x 0,3 m. Os galhardetes para arvorar teriam 0,4 m x 0,4 m. Poderiam ser feitos de tecido ou de chapa metálica.

 

No que diz respeito ao ordenamento, existiam três modelos distintos de galhardetes.

 

Os galhardetes dos membros do Governo teriam o campo, sem bordadura, totalmente ocupado pela simbologia respectiva. Deduz-se, por exemplo, que o galhardete do ministro do Exército seria a quadratura das armas do Exército Português.

 

No caso dos galhardetes do Chefe do Estado-Maior do Exército, do Inspector-Geral, do Vice-Chefe do Estado-Maior, do Ajudante-General, do Quartel-Mestre-General e dos outros oficiais generais com comando, estes teriam uma bordadura dentelada e contra-dentelada, de cor e metal, que delimitaria a simbologia própria.

 

Os galhardetes dos directores das armas e serviços conteriam o escudo da respectiva direcção, sobreposto ou acompanhado das insígnias da arma ou serviço. As insígnias e a sua disposição em relação ao escudo eram as seguintes: 

ARMA OU SERVIÇO INSÍGNIAS DISPOSIÇÃO                                
Infantaria Duas bestas cruzadas Sotopostas ao escudo
Artilharia Duas bocas de fogo cruzadas Sotopostas ao escudo
Cavalaria Dois sabres cruzados Sotopostos ao escudo 
Transmissões 13 raios eléctricos Saintes dos bordos inferiores do escudo 
Saúde Uma cruz grega Sotoposta ao escudo 
Engenharia Duas torres Acompanhando o escudo, à dextra e à sinistra 
Administração Militar Duas gavelas  Acompanhando o escudo, à dextra e à sinistra 
Material Colar constituído por três rodas dentadas e duas granadas, unidas por correntes Envolvendo os bordos inferiores do escudo 

 

Estandarte Nacional

Estandarte Nacional
O Regulamento de Simbologia do Exército incluía, também, a apresentação do novo Estandarte Nacional para as unidades do Exército. Este, no entanto, só seria, oficialmente, introduzido em 1970.

 

O Estandarte Nacional seria a versão transportável da Bandeira Nacional, para ser usada pelas tropas em desfile.

 

O modelo apresentado em 1969 era substancialmente diferente do modelo original para as bandeiras militares, introduzido em 1911. Dispunha de uma confecção extremamente rica e imponente, que o tornava espectacular. Justamente, a sua confecção tão elaborada, levou a que fosse substituído por um modelo muito mais simples e muito menos imponente, logo em 1979. É no entanto, ainda utilizado, num suporte mais simples, por algumas unidades que ainda não o substituiram pelo modelo seguinte.

 

O novo Estandarte Nacional seria quadrado (1,25 m x 1,25 m) e seria tecido em seda, ouro e prata. Seria franjado a ouro e debruado por um fio em ouro, verde e vermelho, terminado por  borlas nas mesmas cores.

 

O Estandarte Nacional teria haste e lança douradas. Na haste, logo abaixo da base da lança, seriam gravadas as iniciais e o número da unidade, com letras maiúsculas de 3 cm de altura. Da haste saía uma vareta horizontal que mantinha a bandeira sempre desfraldada e que seria ligada junto à base da lança por três cordões. A bandeira enfiava na haste e na vareta por bainhas denticuladas.

 

A descrição heráldica do Estandarte Nacional de 1969 era semelhante à do modelo de 1911, incluindo  o listel com a divisa "Esta é a Ditosa Pátria Minha Amada". A sua representação gráfica era, no entanto, bastante diferente, com uma esfera armilar desenhada de outro modo e com o conjunto das Armas Nacionais e ramos de louro a ocuparem quase todo o campo da bandeira.

 

 

 

JOSÉ J. X. SOBRAL 

 

publicado por audaces às 12:26

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