vexilologia, heráldica e história

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Jan 09

Como complemento aos símbolos heráldicos, sobretudo ao partir do Renascimento, foi moda entre a nobreza e a intelectualidade da Europa, o desenvolvimento de emblemas pessoais. Estes emblemas são conhecidos como "empresas" ou "divisas".

 

Ao contrário dos brasões de armas - que, normalmente, não representam apenas uma pessoa, mas uma dinastia inteira - as divisas são, normalmente, pessoais de um único titular. Também, ao contrário dos brasões, os emblemas não estão sujeitos a regras tão apertadas no que diz respeito às cores e estilização das suas imagem,

 

Tal como no resto da Europa, foram vários os membros da Casa Real Portuguesa que adoptaram divisas pessoais. Apesar de serem atribuídas divisas hipotéticas a monarcas da Dinastia de Borgonha, foi durante a Dinastia de Avis que o uso de divisas foi mais cultivado. Esse uso, teve, certamente influência do Renascimento. Algumas divisas de membros da Dinastia de Avis, como o Talant de bien faire do infante D. Henrique,  o Pela lei e pela grei de D. João II e a esfera armilar de D. Manuel I, são ainda hoje utilizados como símbolos nacionais ou de instituições nacionais.

 

Divisa de D. Manuel I

(Misericórdia de Santarém)

Tipos e componentes das divisas

As divisas servem para exprimir, simbolicamente, ideias ou pensamentos que representam os objectivos, os desejos, as aspirações, as normas de conduta ou as normas de vida dos seus titulares. Se o seu significado é metafísico diz-se que a divisa é "verdadeira". Se não, diz-se que a divisa é "falsa".

 

Cada divisa, normalmente, é constituída por uma legenda - chamada "alma da divisa", "mote" ou "lema"  - e por uma imagem, normalmente, alusiva à alma - chamada "corpo da divisa". Se a divisa tem corpo e alma diz-se "perfeita". Se só tiver um daqueles, diz-se "imperfeita". Por vezes, além da alma e do corpo, acrescenta-se, ao emblema, um texto simbólico, em verso ou em prosa.

 

De observar que, por vezes, é utilizado o termo "divisa" para se referir apenas à alma da mesma e o termo "emblema" para se referir apenas ao corpo.

 

Divisas de D. João II e da rainha D. Leonor, ladeando as armas desta

(Torre da Igreja do Pópulo nas Caldas da Rainha)

Divisas da Casa de Borgonha

        PESSOA      

CORPO DA DIVISA ALMA DA DIVISA

  D. Henrique,  

Conde de Portugal

Pégaso com as patas traseiras apoiadas no dorso de um leão (1) Qui Africae littora classibus lustrare caepit (1)

D. Afonso III,

Rei de Portugal

Árvore em mar revolto (1) Ni undas ni vientos (1)

D. Afonso IV,

Rei de Portugal

Águia alcançando o voo (1) Altiora peto (1)

D. Afonso IV,

Rei de Portugal

Embarcação a navegar (1) Velun ventis (1)

D. Pedro I,

Rei de Portugal

Estrela guiando uma embarcação (1) Monstrat iter (1)

D. Fernando I,

Rei de Portugal

Dois corações atravessados por uma espada, um encimado por um ramo de rosas e, o outro, por um feixe de espigas (1) Cur nom untrunque (1)

  (1) Divisa hipotética

 

Divisa do infante D. Pedro, duque de Coimbra

(Mosteiro da Batalha)

 

 

Divisas do infante D. João, condestável de Portugal, acompanhando a insígnia de condestável, as armas da sua mulher e as suas próprias armas

(Mosteiro da Batalha)

Divisas da Casa de Avis

PESSOA

CORPO DA DIVISA

ALMA DA DIVISA

D. João I,

Rei de Portugal

Pilriteiro Por bem

D. João I,

Rei de Portugal

Mão saindo de uma nuvem, segurando uma espada que trespassa um rochedo (1) Acuit ut penetret (1)

D. Filipa de Lencastre,

rainha de Portugal

Pilriteiro Yl me plet

D. Duarte I,

Rei de Portugal

Hera Tayas serey

D. Duarte I,

Rei de Portugal

Serpente enroscada numa lança (1) Loco et tempore (1)

D. Leonor de Aragão,

rainha de Portugal

Esteva florida  

D. Pedro,

duque de Coimbra

Balança Desir

D. Isabel de Aragão,

duquesa de Coimbra

Ramo de carvalho  

D. Pedro,

rei de Aragão

Figura e roda da fortuna Paine pour ioie

D. Jaime,

cardeal-diácono de Sto Eustáquio

Ramos de carrasqueiro Malo mori quan foedari

D. Henrique,

infante de Sagres

Ramos de carrasqueiro Talant de bien faire

D. João,

condestável de Portugal

Bolsa com três vieiras Jay bien reson

D. Fernando,

infante Santo

Ramos de roseira entrelaçados em três círculos Le bien me plet

D. Isabel,

duquesa de Borgonha

Estacada circular Tant que je vive

D. Afonso V,

Rei de Portugal

Rodízio, aspergindo gotas e acompanhado dos dizeres "VII e" Jamais

D. Joana de Castela,

rainha de Portugal

  Memoria de mi derecho

D. Fernando,

duque de Beja

Bóia  

D. Brites de Portugal,

duquesa de Beja

Armadilha de quatro lâminas Y

D. Leonor,

imperatriz da Alemanha

Lírio branco Per bom amor

D. João II,

Rei de Portugal

Pelicano, alimentando as crias com o seu próprio sangue Pola lei e pola grei

D. João II,

Rei de Portugal

Rochedo iluminado pelo sol e árvore banhada pela chuva (1) Haud heme minus estate (1)

D. Leonor,

rainha de Portugal

Camaroeiro Preciosior est cumctis opibus

D. Jorge de Lencastre,

duque de Coimbra

Barca com o corpo de Sant'Iago, assente sobre um carro  

D. Manuel I,

Rei de Portugal

Esfera armilar tendo, por vezes, na eclíptica, os dizeres "M R O E" Spera in deo e fac bonitatem

D. Isabel de Aragão e Castela,

rainha de Portugal

Tenda enfeitada com bandeiras  

D. Maria de Aragão e Castela,

rainha de Portugal

Ramo de boninas  

D. Leonor de Áustria,

rainha de Portugal

Fénix Unica semper avis

D. João III,

Rei de Portugal

Cruz sobre um penhasco In hoc signo vinces

D. João III,

Rei de Portugal

Esfera armilar (1) Spera in Deo meo (1)

D. Catarina de Áustria,

rainha de Portugal

Jarra com açucenas  

D. Fernando,

duque da Guarda

 Dragão enrolado numa estaca  Salus uite

D. Sebastião I,

Rei de Portugal

Um peixe atrás de uma vieira, sob o céu com estrelas e a Lua Celsa serena favent

D. Sebastião I,

Rei de Portugal

Seta de S. Sebastião (2) Pro fide (2)

D. Henrique I,

Rei de Portugal

Golfinho enroscado numa âncora Festina lente

D. Henrique I,

Rei de Portugal

Um navio e um golfinho (1) Uber et tuber (1)

 (1)  Hipotética divisa alternativa

 (2)  Divisa alternativa

 

Divisa de D. Duarte I

(Mosteiro da Batalha)

Divisas da Casa de Bragança

PESSOA CORPO DA DIVISA ALMA DA DIVISA

D. Afonso,

marquês de Valença

Dois guindastes afrontados, ligados por uma corda Neminis

D. Jaime I,

duque de Bragança

Cordas com nós Depois de Vós, Nós

D. João IV,

Rei de Portugal

Fénix Post funera

D. João V,

Rei de Portugal

Águia levantando voo Unus non sufficit

D. Luís I,

Rei de Portugal

Pelicano  

D. Manuel II,

Rei de Portugal

Esfera armilar e corda com nós Depois de Vós, Nós

 

Divisa de D. Afonso, marquês de Valença

(Cripta da colegiada de Ourém)

Divisas de D. Jaime I, duque de Bragança

(Torre de menagem de Evoramonte)

 

 

 

JOSÉ J. X. SOBRAL

publicado por audaces às 19:23
tags:

Boa noite! Estou a fazer uma investigação acerca da "mão de Deus" e não consigo encontrar uma figuração da divisa de D. João I que dá como hipotética - a mão que segura a espada cravada na rocha, vonda da nuvem. Pode-me adiantar a fonte da hipótese? Cumprimentos e obrigado desde já!
Iúri Fernandes a 26 de Junho de 2022 às 01:12

Esta divisa aparece como tendo sido apresentada pelo autor, do século XVII, Jacobus Typotius, na sua obra "Symbola Divina et Humana". Com indicado no texto, trata-se provavelmente de uma fantasia deste autor, por desconhecimento da genuína divisa de D. João I.
audaces a 1 de Agosto de 2022 às 10:11

Muito obrigado pela informação.
Iuri Fernandes a 1 de Agosto de 2022 às 19:45

Agradecia que me informasse se era possível fazer a interpretação técnica do emblema de uma coletividade se eu enviasse um exemplar e explicasse resumidamente a discrição do mesmo?
VSM
Virgi Sar Mat a 5 de Agosto de 2022 às 16:26

Posso tentar
Anónimo a 18 de Agosto de 2022 às 13:26

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