vexilologia, heráldica e história

01
Set 08

 

S. Jorge foi um dos santos mais venerados pelos Portugueses durante a Idade Média. A sua devoção poderá ter sido bastante inflenciada pelos cruzados ingleses que auxiliaram D. Afonso Henriques na tomada de Lisboa em 1147.

Provavelmente foi também devido à influência inglesa - através das tropas do duque de Lencastre que se encontravam, então, na Península Ibérica - que a devoção a S. Jorge teve um grande incremento durante reinado de D. Fernando I. 

D. João I elege-o como protector de Portugal na luta contra Castela, em substituição de Sant'Iago, que também era padroeiro dos castelhanos. Sant'Iago manteve-se como protector dos Portugueses, mas  apenas na luta contra os infieis.

Em 1387, S. Jorge é oficialmente declarado Santo Patrono de Portugal.

Manter-se-á como principal Santo Patrono da Nação até 1640, altura em que Portugal é colocado sob a protecção de Nossa Senhora da Conceição.

 

A bandeira de S. Jorge

Bandeira de S. Jorge
Um dos principais distintivos atribuidos a S. Jorge é uma cruz firmada de vermelho, em campo branco. Esse distintivo foi colocado em brasões e bandeiras de países e cidades que adoptaram o santo como patrono. De observar que, nalguns casos a Bandeira de S. Jorge é representada com a cruz firmada, mas de outras cores, como é o caso da bandeira da Grécia (cruz branca sobre azul). Também há alguns casos em que uma bandeira com uma cruz vermelha sobre branco é usada para representar outros santos, como é o caso da bandeira de Milão, que representa S. Ambrósio.

 

Segundo se crê, o primeiro estado a adoptar o emblema de S. Jorge, com a cruz vermelha sobre fundo branco, teria sido o Império Bizantino, mas não há certeza  se o teria usado sob a forma de bandeira. Também há notícias do mesmo símbolo ter sido usado pela Geórgia, talvez sob a forma de bandeira, a partir do século V.

 

A República de Génova, cujo patrono era S. Jorge, é talvez o primeiro estado a dar uso generalizado da bandeira com a cruz vermelha sobre fundo branco. 

 

A Inglaterra adoptou a Bandeira, no século XII, para uso dos seus navios que navegavam no mediterrâneo, para mostrar que gozavam dos direitos e protecções dos navios de Génova, na altura uma grande potência marítima. O uso marítimo da bandeira, estendeu-se, depois a outros âmbitos, tornando-se, a Bandeira de S. Jorge, a bandeira nacional de Inglaterra. Barcelona, Pádua e outros estados devotos de S. Jorge, adoptaram também a mesma bandeira.

 

Apesar da grande devoção, dos portugueses, a S. Jorge, ter-se iniciado, provavelmente, no século XII, por influência inglesa, não é provável que, já naquela altura, se usasse a Bandeira de S. Jorge, em Portugal, já que, então, nem na Inglaterra ela era utilizada, pelo menos em larga escala. 

 

O primeiro uso documentado da Bandeira de S. Jorge pelos portugueses dá-se no cerco de Lisboa, pelos castelhanos em 1384. Fernão Lopes, na sua Crónica de D. João I, informa-nos que, durante o cerco, em cada uma das torres das muralhas de Lisboa, os portugueses tinham hasteadas três bandeiras: a das Armas do Reino, a da cidade de Lisboa e a de S. Jorge. O uso desta bandeira, provavelmente, deverá ter sido influenciado pelo mesmo uso, por parte das tropas inglesas de João de Gant, duque de Lencastre, que se encontravam na Península Ibérica a lutar, ao lado dos portugueses, contra os castelhanos. Também não se pode descartar a hipótese de uma influência genovesa, cidade-estado com a qual, Portugal, mantinha fortes relações comerciais. O que é certo é que foi por essa altura que S. Jorge se tornou o principal santo protector de Portugal e deverá ter sido também por essa altura que se começou a utilizar a sua bandeira no país.

 

Na Batalha de Aljubarrota, em 1385, sabe-se que todos os combatentes portugueses - desde o simples soldado camponês, até ao alto comandante nobre - usavam ao peito, como símbolo de nacionalidade, o emblema de S. Jorge. Não se sabe, exactamente, sob que forma era usado o referido emblema: poderia ser um distintivo de madeira ou metal preso ao pescoço ou uma túnica branca com uma cruz vermelha. O que se sabe é que a Bandeira de S. Jorge foi usada na batalha como distintivo da Ala Direita das tropas portuguesas. Também na batalha esteve presente a bandeira pessoal de D. Nun'Álvares Pereira, grande devoto de S. Jorge, que era de fundo branco, com a cruz vermelha de S. Jorge firmada e acantonada com outros emblemas.

 

Tudo indica que a Bandeira de S. Jorge tenha continuado a ser usada em Portugal, como uma espécie de segunda bandeira nacional, à semelhança do que acontecia em Inglaterra.

 

Bandeira de S. Jorge em destaque, num pormenor

das Tapeçarias de Pastrana

Mais tarde, a Bandeira de S. Jorge é retratada em destaque nas tapeçarias de Pastrana, que representam a tomada de Arzila, em 1471, pelo Rei D. Afonso V de Portugal. Nas tapeçarias apenas aparecem pormenorizadas três das inúmeras bandeiras representadas sendo levadas pelas tropas terrestres e hasteadas nos navios portugueses. Essas três são a Bandeira das Armas Reais, o guião pessoal de D. Afonso V e, justamente, a Bandeira de S. Jorge. Estas tapeçarias são, talvez, significativas para identificar o estatuto de símbolo nacional que a Bandeira de S. Jorge teria, na altura, em Portugal.

 

O Regimento da Guerra, integrado nas Ordenações de D. Afonso V, especifica no seu 53º Item: "Cada um de qualquer estado ou condição, ou nação que seja, que na nossa parte for, traga um sinal das Armas de S. Jorge, largo, hum diante, outro detrás". Além disso, a alínea, ainda, diz que não será castigado quem ferir ou matar alguém que não cumprisse a obrigação de trazer os referidos sinais.

 

Bandeira de S. Jorge hasteada no Castelo da Mina, num pormenor de uma carta de João Freire

Em 1482, o Rei D. João II, outro grande devoto de S. Jorge, dá o nome do santo à nova fortaleza e feitoria construída na África Ocidental, que se tornará a grande base portuguesa na região, com a denominação de S. Jorge da Mina. Essa fortaleza, será representada, em diversos mapas e cartas de marear, com uma Bandeira de S. Jorge hasteada na sua torre mais alta.

 

A partir do final do reinado de D. João II desaparecem as referências ao uso da Bandeira de S. Jorge. É provável que, fosse por essa altura, que o antigo lugar de emblema nacional ocupado por aquela bandeira passasse a ser ocupado pela Bandeira da Ordem de Cristo. A essa mudança não deverá ter sido estranho o novo Rei, D. Manuel I que, além de ter sido mestre da Ordem de Cristo, era natural que quisesse transmitir uma imagem de mudança, relativamente ao reinado de D. João II.

 

Com a substituição de S. Jorge por Nossa Senhora da Conceição, como padroeira principal de Portugal, em 1640, deixou de haver, definitivamente, motivo para o uso da Bandeira de S. Jorge para representar a Nação.

 

JOSÉ J. X. SOBRAL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado por audaces às 13:10
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